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sexta-feira, 25 de junho de 2010

Rosas Portuguesas

Quando não se entretinha a contar-me histórias de santos, Avó-Má que era muito religiosa, e tinha uma secreta esperança que um dia eu fosse para padre, como um tio que teve mas não cheguei a conhecer, contava-me histórias dos seus tempos de menina de colégio interno, onde foi educada. Embora eu não fosse o neto preferido dela, esse era o primo Jojo, filho da Tia Zela (Gisela) por razões que mais tarde contarei, eu era muito sossegado e dócil, e acima de tudo, um grande ouvinte, sequioso, que absorvia tudo o que era novidade.
Contava-me as peças de teatro que organizavam e numa delas o enredo girava à volta de “Imperatrizes” dos cinco continentes, em que ela representava a “Imperatriz da Europa”.
Embora nunca tivesse saído do Extremo Oriente, falava da Europa com todos os pormenores, das cidades, das pessoas, dos monumentos, fruto das leituras que fez. Quando falava de Portugal, contava que era tudo diferente, as casas, as pessoas, as comidas, as flores, fazia questão de salientar as rosas (talvez relacionando com o Milagre das Rosas, que também me contou…).
Através de Avó-Má viajei por essa Europa, subi à Torre Eiffel, ouvi tocar o Big Ben (e a sua história)…, andei de gôndola em Veneza, impressionei-me com as neves eternas (na altura…) dos Alpes… extasiei-me sob a Capela Sixtina do Vaticano e recebi a bênção urbi et orbi de Pio XII… e senti o cheiro das rosas portuguesas…
Avó-Má era assim; apesar de ter sido educada num internato católico, conservador, tinha um espírito aberto, uma sede de expandir os conhecimentos. Apesar da vida nunca mais lhe ter proporcionado sair de Macau, nem sequer conhecia Hong Kong, mesmo ali ao lado, desejava convictamente que os seus filhos levantassem voo e procurassem novos horizontes.
Hoje, a Família Amarante encontra-se espalhada pela Europa, Ásia e Oceania. Já esteve em África e eventualmente nas Américas. Resultados da Diáspora.
Eu nunca mais regressei a Macau, primeiro por razões económicas, depois, porque o Macau que eu vivi e lembro, já não existe. Dos familiares, restam um Tio e Família e dois primos.
Há uns anos o meu irmão Mário e sua mulher foram a Macau. Apesar de ter nascido lá, saiu muito novo e não se lembrava de nada. Levou, por mim, na sua bagagem, uma rosa portuguesa, para depositar no ossário dos meus Avós no Cemitério de São Miguel.
Avó-Má compreendeu concerteza.

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