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segunda-feira, 31 de maio de 2010

"Comidas exóticas"...


Falava o meu Amigo e Colega João Alfaro da eventualidade de abordar aqui um tema relacionado com “comidas exóticas” de Macau. Ora, eu já tive a oportunidade de referir que a gastronomia macaense é uma espécie de fusão de várias influências, a começar pela chinesa (cantonense) e portuguesa, passando pelas especiarias da Índia, pelas cores, sabores e texturas da Indochina e Indonésia até ao extremo País do Sol Nascente.
A gastronomia aproveitou muito, de espírito muito aberto, dessas culturas, mas cobras, cães e gatos, larvas e insectos, vermes e outros seres afins e partes íntimas de criaturas que mexem, nunca fizeram parte do cardápio macaense.
A propósito, quero contar um curioso episódio inter-cultural de quando os Portugueses chegaram ao Japão. Havia um prato japonês, cujo nome se perdeu que era muito picante. O Zé Portuga, ao prová-lo, pela primeira vez, teria dito algo como “… o sacana do prato é picante como o…”. Foi o suficiente para o nome ser adoptado. Existe neste momento um prato japonês chamado “Sacana”. Ainda há uns anos atrás, numa prova de Judo, alguém chamou sacana a outro, o Mestre Kioshi Kobayashi ouviu e disse que “… no Japão, sacana é nome de comida…”
Foto: da Net

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O galo, a empregada, Avó-Má e o que mais adiante se dirá

Tempos houve em que os galináceos destinados à degustação tinham penas e eram vivos e não como hoje se apresentam nos hipers e congéneres, higienicamente embalados e alinhados a baixa temperatura, para grande confusão dos mais pequenos para quem os frangos sempre foram assim, para grande alegria de alguns que, assim, criaram as "quintas pedagógicas", suprindo "a pagantes", aquilo que a globalização produziu.
Pois naquele tempo, Avó-Má, mulher de Chefe dos Bombeiros, recebeu de presente de um dos subordinados de Avô-Pá, um imponente galo. Com oito filhos para alimentar, um animal desses iria saber que nem maná. Só que, havia um pequeno problema técnico. Por razões que desconheço, tinham prescindido dos serviços de uma empregada que tratava das questões de cozinha. Neste interim, tinham contratado uma jovem recém-chegada do interior, que aliado ao factor juventude, estava em fase de adaptação e não percebia nada de cozinha.
Avó-Má cozinhava, mas não matava. Quando ia ao mercado, escolhia o bicho e o vendedor, em três tempos (autêntico!) matava, depenava, abria, limpava e ficava pronto para cozinhar.
Ora, a empregada nunca tinha feito tal serviço, nem havia em casa alguém ou guilhotina para o efeito. Lá se  instruiu a empregada que era necessário dar um golpe no pescoço do animal, virá-lo ao contrário, seguro pelas patas e deixar escorrer o sangue e depois, era só mergulhar em água quente para ser depenado.
Depois de muitos pedidos de escusas, lá foi a pobre empregada de faca na mão desferir o golpe mortal. Lá cortar, cortou, mas não teve forças para segurar o galo de cabeça para baixo. Este, soltou-se e desatou a correr com a cabeça meio cortada pendurada. Vendo a cena a empregada larga a correr e a gritar na cozinha. Por mero acaso, o galo semi-decepado seguia atrás dela, com as asas meio abertas e de lado. Ela à frente e o bicho sempre atrás. Quando entraram na cozinha o cenário era digno de um filme de Polanski: sangue por todo o lado e a empregada, de joelhos em frente do galo, de mãos postas, pedia-lhe perdão em Cantonense, que não tinha culpa, que tinham sido ordens da patroa...
Não sei como cozinharam o galo, mas a partir daí, a minha Mãe aprendeu o ofício. Quando viemos viver para o Entroncamento ela ainda se encarregava dessa nobre missão...

domingo, 9 de maio de 2010

"Maria Pintchai"

Tanto quanto me lembro, o nome dela era Maria Agostinho dos Santos. Não sei o significado de "Pintchai", nem porque razão era assim conhecida. Era uma das muitas tias que tinha em Macau. Macaense, casada com um português metropolitano, tinha um filho e uma filha, sendo a rapariga mais ou menos da minha idade. Era amiga da minha Mãe, com quem mantinha uma curiosa relação de amor/ódio. Tão depressa se zangavam (por alguma razão se tratavam como "comadres", mesmo sem terem amadrinhado quem quer que fosse...) como andavam aos abraços e se visitavam. O facto é que a Tia Maria tinha uma língua "...mais comprida do que a légua da Póvoa". Em Macau esta expressão não era conhecida, mas existia uma outra que se lhe aplicava que nem um mimo: "Se alguém desse um pum na Avenida Almeida Ribeiro a primeira pessoa a saber quem foi, seria a Maria Pintchai...". Naquela altura, a referida avenida era uma das mais densamente frequentadas de Macau, daí a pretensa dificuldade na identificação do libertador dos gases...
Mas nem só de má-língua vivia a dita senhora. Quando os meus Pais passavam por um período difícil, minha Mãe lá me enviava a casa de Maria Pintchai com um papel muito bem dobrado em várias partes e a dar um nó num arremedo de origami. Na volta, o papel regressava mais grosso, sinal que algo tinha sido incorporado e o pedido de ajuda tinha sido satisfeito.
A Maria Pintchai foi protagonista de uma das cenas culinárias mais hilariantes que tive oportunidade de assistir. Estava ela de visita a nossa casa, para porem as notícias em dia e ficou para almoçar. Nesse dia íamos comer costeletas panadas e batatas fritas. Ora, eu cirandava na cozinha à mira das batatas, onde as duas ultimavam as costeletas. A minha Mãe panava-as e colocava-as no wok e a Maria Pintchai virava-as e quando estavam boas tirava para uma travessa. Distraída com a vida desta e daquela, a boa da Maria Pintchai tira uma costeleta da fritura e em vez de a colocar na travessa, que era suposto estar na mão esquerda, coloca-a directamente na mão! Tão depressa a costeleta ganhou asas, da boca dela saiu um "Ham ka tchan!" alto e sonoro seguido de um "Tiu na ma da hai". A primeira expressão é equivalente ao nosso "Raios te partam!". A segunda expressão, manda-me a decência que não a traduza nem à pala da  liberdade literária.
Pouco tempo antes do seu falecimento, a minha Mãe ainda recebeu um telefonema de Macau de Maria Pintchai. Lá puseram mais umas notícias em dia, separadas por oito fusos horários. Não sei se recordaram a cena da costeleta...
Foto: Maria Pintchai e minha Mãe na festa de Aniversário do Mário e do Baptismo da Diana no último ano que vivemos em Macau.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Brincando com a cozinha macaense...

Vamos supor que fez a receita de "Minchi", publicada um pouco mais abaixo e que sobrou. Os Macaenses sem nenhum problema, no dia seguinte voltavam a aquecê-lo no "wok" e acompanhavam com arroz. É das comidas que ficam melhor no dia seguinte, porque teve tempo para misturar melhor os sabores. Mas eu tenho outra sugestão:
1 - Faça uma porção de massa tenra (ou compre-a já feita...).
2 - Aqueça bem as sobras de minchi no "wok" e tempere a gosto com açafrão das índias e misture bem. Tem de ficar com cor amarelada da especiaria.
3 - Utilize este preparado para recheio de uns pasteis pequenos, do tamanho de rissóis, dando-lhes uma forma mais alongada.
4 - Frite como pasteis de massa tenra.
5 - Chamam-se "Chilicotes". Não há festa que não os apresente.
É claro que esta não é a receita original, que publicarei oportunamente.
 A fotografia mostra uma festa de aniversário da minha prima Ivone (frente ao bolo com velas). Inseri-a porque nela, fui apanhado em flagrante delito, que é como quem diz, com a boca num "chilicote" (há um prato cheio deles à minha frente...). Por acaso a aniversariante tem também um na mão, depois de lhe ter dado uma trinca... (pela fotografia pode-se ter uma ideia do tamanho dos "chilicotes".
Quanto às pessoas, da esquerda para a direita: Tia Gija (Nídia de baptismo), Tia Branca, Prima Albertina, Tio Carlos (padrinho do meu irmão Mário), meu Pai (de bigode), minha Mãe; à frente dela o meu primo "Boy" (assim mesmo, nunca soube o nome dele...). Tanto as primas Albertina e Ivone como o primo "Boy", são filhos da Tia Branca.

domingo, 2 de maio de 2010

As Três Mães da Minha Vida

Pouco me importa se é um lugar comum, se o transformaram numa forma de comércio. Hoje é o DIA DA MÃE.
Eu tenho três Mães:
  • Avó-Má - Mãe da minha Mãe
  • A minha Mãe
  • A Mãe das minhas filhas
Para elas a mais bela das flores e uma canção.

Mais uma receita: "Minchi"

"Minchi", dizem os entendidos, é uma corruptela do anglo-saxónico "mince" (carne picada, picadinho) pois é disso que se trata. Apesar de toda a riqueza e variedade da gastronomia macaense, se for feito um inquérito ou sondagem sobre qual é o prato mais representativo (e querido...) dos macaenses, há muitas hipóteses de surgir "Minchi" em primeiro lugar.
É um prato caseiro, e utilizando uma expressão dos nossos dias, é um prato de fusão entre o Português e o Chinês. Começa com um refogado de cebola e alho, bem nacional, passa por batata frita, a presença do indispensável molho de soja, o acompanhamento de arroz branco, solto, cozido sem sal e a utilização do tradicional "wok"* na sua execução, tudo cortado aos bocadinhos à boa maneira chinesa. Posto isto, vamos à receita:

"MINCHI"
Ingredientes:
1 - 250 g de carne picada (vaca ou mistura de vaca e porco)
2 - 500 g de batata cortada aos quadradinhos (pequenos)
3 - 1 cebola média cortada às meias luas fininhas
4 - 2 dentes de alho picados
5 - 2 colheres de sopa de molho de soja
6 - 1 colher de chá de farinha 
7 - sal, pimenta e açúcar
8 - óleo ou azeite para fritar
Preparação:

. Tempere a carne com o molho de soja, uma pitada de açúcar, sal (muito pouco, porque o molho de soja já é salgado) e pimenta. Ligue tudo com a farinha.
. Num "wok", aqueça um pouco de óleo ou azeite e faça um refogado pouco puxado com a cebola e o alho.
. Junte a carne já temperada. Aumente o lume, deixe fritar o mais rapidamente possível mexendo sempre.  A ideia é a carne cozinhar depressa e ficar separada aos bocadinhos. Pode ficar mais ou menos húmida, conforme o gosto. Reserve no próprio "wok".
. Frite as batatas normalmente (sem sal). Deite-as em cima da carne no "wok".
. Leve ao lume forte, mexa bem para misturar os sabores. Se necessário rectifique  o sal.
. Acompanhe com o tradicional Arroz Branco cozido em água apenas.
. * "wok" é uma espécie frigideira de fundo curvo muito utilizado na cozinha chinesa. Na sua falta utilize uma frigideira maior ou até um tacho anti-aderentes. O "wok" mostrado na fotografia é artesanal, de família,  já muito antigo. O brilho é por estar untado com óleo para não enferrujar. Os "woks" modernos, apesar de manterem a  forma curva nos lados, têm fundos planos para se adaptarem às placas eléctricas, mas o efeito não é o mesmo uma vez que o calor não se distribui pelos lados como num bico a gás forte.
. Antigamente, a gordura utilizada na confecção era a banha de porco. A bem da saúde, utilize um bom óleo ou então o nosso portuguesíssimo azeite.
. O molho de soja encontra-se já à venda na maioria dos nossos super e hipers. Enquanto não se habituar, sugiro que utilize pequenas quantidades de cada vez.

sábado, 1 de maio de 2010

1º de Maio

Em Macau nem se falava em 1º de Maio. A Comunidade Chinesa trabalhava todo o ano e só parava três dias, por ocasião do Ano Novo Chinês.
Foi preciso esperar pelo 25 de Abril de 74 para festejarmos este dia.
Lembro-me que o primeiro 1º de Maio em Liberdade foi passado entre raides e cortejos automóveis entre o Entroncamento e as terras vizinhas, `com um grupo de Amigos, num "Carocha" velhinho que era do meu Pai e que pegava quando lhe apetecia... À noite fomos jantar ao "Bacalhau Assado" e vimos as imagens do estádio da INATEL/1º de Maio cheio de gente, faixas e bandeiras. Como música de fundo, José Mário Branco cantava Camões "Mudam-se os tempos..."..
Entre as muitas alternativas disponíveis, escolhi o tema "Maio Maduro Maio" de José Afonso

Amigos

Ao realizar um pequeno filme de colagem de fotografias, dedicado aos Amigos, apercebi-me que alguns já não se encontram entre nós. Foi uma sensação estranha. De repente senti saudades. Mas do futuro, quando nos voltarmos a encontrar novamente.

Ache outros vídeos como este em Rede Social do Entroncamento