Vivendo os meus Avós na Rua Francisco Xavier Pereira, pertenciam à Paróquia de Santo António, cuja Igreja, uma das três mais antigas de Macau, era a frequentada por todos os elementos da nossa Família, mesmo vivendo noutra paróquia. Todos foram lá baptizados, tiveram catequese e fizeram a 1ª comunhão e foram crismados. Todos, menos eu, que por razões nunca esclarecidas, fui baptizado na Sé Catedral… Curiosamente, Santo António tinha um posto militar: era capitão, com direito a soldo, que lhe era entregue anualmente em cerimónia de grande pompa e circunstância pelo Presidente do Leal Senado e revertia para o pão dos pobres da Igreja.
Hoje trago uma história que a minha Mãe me contou. Teria ela uns cinco anos e viviam perto do quartel dos Bombeiros, onde Avô-Pá trabalhava. Em frente do quartel funcionava o consultório de um oftalmologista.
A minha Mãe via os doentes saírem do consultório com um algodão nos olhos, que deitavam fora à saída.
Para os imitar o que havia de se lembrar? Apanhou dois algodões do chão e colocou nos olhos para fingir que estava doente também. A “brincadeira” valeu-lhe uma gravíssima infecção, ficando cega dos dois olhos.
Decorria o ano de 1931 e celebravam-se os setecentos anos da morte de Santo António. Entre as festividades houve uma grande procissão em que Avó-Má, devota do Santo, participou, levando a minha Mãe pela mão. Esta, com os olhos enfaixados, não via nada, mas lembrava-se de ouvir os foguetes ("panchões") e a música das bandas que tocavam na procissão. Não sabemos se houve alguma promessa, mas o Taumaturgo deve ter atendido as preces de Avó-Má, porque a minha Mãe recuperou totalmente a vista esquerda e parcialmente a direita, ficando com uma cicatriz branca junto da pupila.
Como nisto de santos, nada melhor do que estar de bem com todos, uma vez que o Santo Casamenteiro atendeu uma prece sobre a vista, o meu Tio César chamou à sua filha mais velha Luzia, nome da Santa Protectora da vista e da visão…
Fotos: da Net
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