Este Blog não adere ao Novo Acordo Ortográfico

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sexta-feira, 16 de abril de 2010

Regresso


A Primeira República dava ainda os seus primeiros passos e desembarcava em Macau Simão Amarante em cumprimento de uma comissão do serviço militar. Nortenho (de Gôve, concelho de Baião), alto, analfabeto, bem parecido, republicano convicto, trazia o sonho de encontrar e abanar a árvore das patacas em terras do Extremo Oriente.
Finda a comissão, como tantos outros, tentou a sua sorte, numa terra completamente estranha, arranjou emprego, constituiu família, viveu uma vida cheia, que venho contando aos poucos, sempre na expectativa de um dia regressar de visita ao torrão natal.
Circunstâncias diversas nunca o permitiram, oito filhos foram o maior entrave, depois a reforma e a Segunda Guerra Mundial acabaram com as esperanças (e as licenças graciosas…). Não enriqueceu.
Mas Avô-Pá, o meu avô, sempre incentivou os seus filhos a deixarem Macau e a alargarem os horizontes, eventualmente na sua terra natal, Portugal, que nunca esqueceu.
A minha Mãe foi o primeiro elemento da Família a estabelecer-se na Metrópole. Lembro-me de, na véspera da nossa partida, Avô-Pá dizer: “Carina (era como a tratava sempre), não tens de ir, tens aqui sempre um quarto e um prato para ti e teus filhos, mas vais ver que Portugal é um País lindo…”. Referia-se aquilo que conhecia e lembrava de há 40 anos atrás.
Com pouco mais de 60 anos deixou-nos, sem nunca ter regressado a Portugal.
Em 15 de Outubro de 1975 nascia no Hospital do Entroncamento NUNO RAFAEL DA SILVA FELICIANO, 1º filho da minha Irmã Diana, e apesar de já não usar o apelido Amarante, foi o primeiro descendente do bisavô Simão Amarante a nascer em Portugal.
Simbolicamente foi o regresso tão desejado e ao mesmo tempo, a primeira semente nesta terra, que, apesar de tudo, Avô-Pá tanto amava.
O apelido Amarante de Avô-Pá extinguir-se-à naturalmente em Portugal, mais ano, menos ano; os seus mais novos titulares são do sexo feminino, mas a Diáspora Macaense, que espalhou a nossa Família pelos cinco continentes, vai manter ainda vivo o sangue dos Amarantes durante muito tempo.

Nuno Rafael no seu melhor!

domingo, 11 de abril de 2010

Gincana Comemorativa do XXIV Aniversário do Sporting Clube de Macau

Uma Família de Desportistas

Já falei da minha Mãe como nadadora; hoje vou falar de outra faceta muito pouco conhecida: a de pendura em Gincana Automóvel. Ela já me tinha contado que tinha participado algumas vezes nesse tipo de provas quando era nova. Desta vez, encontrei um recorte de jornal e algumas fotografias de duas gincanas, com as quais fiz o filme mostrado acima, tendo numa delas ficado em 2º lugar, conforme noticiado. De salientar que em 5º lugar surge também uma irmã mais nova de nome Gisela Amarante. A prova referida no recorte, é de 30 de Dezembro de 1950.

sábado, 10 de abril de 2010

"Caixa Escolar"

Pesquisando na net, encontrei a designação em título. Recordei-me que, nos inícios dos anos 50, frequentava eu a escola primária em Macau, a "Caixa Escolar" era o local onde os alunos mais carenciados tomavam as suas refeições diárias (pequeno-almoço e almoço) em tempo de aulas. Já não me lembro bem de tudo. Mas a impressão que tenho é que nós gostávamos do que comíamos e hoje, constato que havia uma preocupação em agradar a todos, alternando refeições de influências orientais com macaenses e portuguesas e até inglesas.
Ao pequeno-almoço, para além do leite, simples ou com café ou chocolate e pão com manteiga  ou "jam" (doce) ou queijo, por vezes tínhamos "porridge" (papas de aveia), que pessoalmente não gostava muito, mas marchava tudo...
Do que menos me lembro é dos almoços. Para além da sopa inicial e da sobremesa (normalmente era fruta, por vezes arroz doce), dois pratos eram inevitáveis: "Arroz Chau-Chau" e "Feijoada Portuguesa" (que era sempre às 4ª.s feiras). Para quem frequenta os restaurantes chineses, devo esclarecer que o "Arroz Chau-Chau" é um prato principal e não aquela mistela que nos costumam impingir como acompanhamento. Os Chineses acompanham SEMPRE os seus pratos com Arroz Branco, cozido, sem sal.
O "Arroz Chau-Chau" que comíamos era rico de ingredientes que passavam pelos ovos mexidos, pelas carnes aos bocadinhos (chouriço chinês, pato assado, carne de porco assada) até camarão cozido descascado (fazíamos uma espécie de aposta para ver quem tinha mais camarões...)tudo salpicado de cebolinho o que lhe conferia um sabor inesquecível.
Quanto à "Feijoada", era a típicamente portuguesa; o que variava era o feijão, ora era o vermelho, ora era o branco. Como refeição portuguesa, nesse dia tínhamos um pão extra a acompanhar. Para despacharmos mais depressa para irmos para a brincadeira, fazíamos um buraco no pão, tirávamos o miolo e enchíamos o espaço com feijoada e vínhamos cá para fora comer aquela espécie de sanduíche... à portuguesa...
Resta acrescentar que o edifício da "Caixa Escolar" ficava no espaço físico da Escola Primária, a Escola Central, como era chamada, não tendo de nos deslocarmos para fora da Escola para fazermos as refeições.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

As Tias...


Não têm nada com as “ditas de Cascais”. Antigamente, em Macau, as pessoas com quem tínhamos mais proximidade, recebiam o tratamento de Tios e de Manos, conforme eram mais velhas ou mais novas. Eu tenho dois irmãos, mas tinha dezenas de manos…(entre primos e amigos).
Isto vem a propósito de determinadas personagens que surgiam regularmente nas casas dos meus Avós e também dos meus Pais, normalmente tratadas por “Tias”, já idosas, vestidas sobriamente e que, curiosamente nunca cheguei a saber os nomes. Eram pessoas que se exprimiam educadamente, chegavam a meio da manhã, almoçavam connosco, às vezes ficavam um pouco pela tarde e depois partiam. Eram tratadas com todo o respeito. Eu sempre pensei que eram amigas da minha Avó, mas achava-as demasiado idosas para serem amigas da minha Mãe. Tanto a minha Avó como a minha Mãe nunca me disseram quem eram, pelo que, para nós, eram as Tias…
Hoje, já não tenho dúvidas que eram pessoas que viviam em asilos (actualmente denominados pomposamente lares de 3ª idade…) ou sozinhas e que por qualquer motivo eram apoiadas pela nossa Família naquilo que era possível: uma refeição de vez em quando, alguma companhia e eventualmente alguma ajuda financeira (que nunca vi e não creio, já que não vivíamos com desafogo para tal).
Lembrei-me delas quando vi hoje uma reportagem na televisão sobre o fornecimento de refeições gratuitas aos mais necessitados.
Em Portugal, 36 anos depois do 25 de Abril de 74.
E para ilustrar, um tema de Chico Buarque respigado da net:

terça-feira, 6 de abril de 2010

"Arre-Macho..."

Faz hoje 40 anos que fui incorporado no Exército Português. Antigamente dizia-se assentei praça. Como soldado cadete na Escola Prática de Infantaria em Mafra.
De cabelo cortado tomei o comboio para uma longa jornada até à terra do Memorial do Convento. A meio da viagem já tinha estabelecido conhecimentos com outro mancebo (que raio de nome!) que ia para o mesmo.
Dispenso os pormenores da recepção,  inspecção médica e da distribuição da fardamenta. Foram demasiado humilhantes e surrealistas para serem recordados.
No final da tarde, antes do jantar, era vê-los à procura de amigos, conterrâneos, ou simples conhecidos.
As fardas eram enormes. As botas gigantescas. Os quicos pareciam barcaças ao contrário.
Nessa noite, foi a grande desbunda da praxe aos novos instruendos, com os soldados cadetes do 2º ciclo a armarem-se em oficiais e o pessoal cheio de medo, mais encostados uns aos aos outros que ovelhas num rebanho.
Foi o primeiro dia de quase quatro anos que dei à instituição militar em nome de uma Guerra Colonial que agonizava nas três frentes.
Foto: "... Quando eu morrer, enterrem-me na Tapada, com a velha Mauser e a farda ataviada..."(adaptação de bossa nova em voga na altura)


domingo, 4 de abril de 2010

PARA O ANO EM JERUSALÉM!

Com tudo o que a frase em título possa significar, a todos os que me acompanham neste espaço, 
votos de FELIZ PÁSCOA!

Igrejas de Macau