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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

"Dolci papiaçan di Macau" (Adé)



O título de hoje, traduzido à letra significa algo como "O doce papaguear de Macau". O autor da frase, José dos Santos Ferreira (1919-1993), também conhecido por Adé, foi talvez o último poeta popular de Macau.
Homem dos sete instrumentos, dedicou-se à recolha e ao estudo das palavras que constituem o "Patuá", o dialecto macaense, que dominou como ninguém.
Poeta, escritor, investigador, músico compositor, jornalista, radialista, homem do desporto, já não o conheci pessoalmente.
A minha Mãe falava muito dele, porque quando era nova tinha sido treinada por ele em Atletismo, onde conseguiu alguns resultados de relevo.
Muito do que escreveu foi compilado em sete volumes: "As Obras Completas de Adé" editadas pela Fundação Macau, em dialecto macaense.
Eu não aprendi o patuá (apenas os macaenses mais antigos o utilizavam), mas de Avó-Má e mesmo da minha Mãe, retive muitas palavras desgarradas.
Neste momento, corre um processo para a UNESCO reconhecer o patuá de Macau como Património Cultural da Humanidade, já que corre o risco de desaparecer para sempre, com a Diáspora Macaense.
Quero deixar-vos com um excerto de um poema de Adé. Apesar de escrito em patuá sem tradução, com uma leitura atenta não será muito difícil entender o sentido geral das palavras.
Esta é a minha terra que convosco partilho:

"...
Masqui ramendá unga tosco bote,
Largado na mar co ónda picánte,

Quim pôde isquecê acunga dote
Qui já dá vôs grandura di gigánte!
Pa quim buscá luz, vôs sandê candia;
Quim passá fome, vêm aqui têm pám;
Pa quim ta fuzi, susto ventania,
Vôs dá teto co paz na coraçám."
(José dos Santos Ferreira, in Obras Completas de Adé)

Na foto, José dos Santos Ferreira


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