Tempos houve em que os galináceos destinados à degustação tinham penas e eram vivos e não como hoje se apresentam nos hipers e congéneres, higienicamente embalados e alinhados a baixa temperatura, para grande confusão dos mais pequenos para quem os frangos sempre foram assim, para grande alegria de alguns que, assim, criaram as "quintas pedagógicas", suprindo "a pagantes", aquilo que a globalização produziu.
Pois naquele tempo, Avó-Má, mulher de Chefe dos Bombeiros, recebeu de presente de um dos subordinados de Avô-Pá, um imponente galo. Com oito filhos para alimentar, um animal desses iria saber que nem maná. Só que, havia um pequeno problema técnico. Por razões que desconheço, tinham prescindido dos serviços de uma empregada que tratava das questões de cozinha. Neste interim, tinham contratado uma jovem recém-chegada do interior, que aliado ao factor juventude, estava em fase de adaptação e não percebia nada de cozinha.
Avó-Má cozinhava, mas não matava. Quando ia ao mercado, escolhia o bicho e o vendedor, em três tempos (autêntico!) matava, depenava, abria, limpava e ficava pronto para cozinhar.
Ora, a empregada nunca tinha feito tal serviço, nem havia em casa alguém ou guilhotina para o efeito. Lá se instruiu a empregada que era necessário dar um golpe no pescoço do animal, virá-lo ao contrário, seguro pelas patas e deixar escorrer o sangue e depois, era só mergulhar em água quente para ser depenado.
Depois de muitos pedidos de escusas, lá foi a pobre empregada de faca na mão desferir o golpe mortal. Lá cortar, cortou, mas não teve forças para segurar o galo de cabeça para baixo. Este, soltou-se e desatou a correr com a cabeça meio cortada pendurada. Vendo a cena a empregada larga a correr e a gritar na cozinha. Por mero acaso, o galo semi-decepado seguia atrás dela, com as asas meio abertas e de lado. Ela à frente e o bicho sempre atrás. Quando entraram na cozinha o cenário era digno de um filme de Polanski: sangue por todo o lado e a empregada, de joelhos em frente do galo, de mãos postas, pedia-lhe perdão em Cantonense, que não tinha culpa, que tinham sido ordens da patroa...
Não sei como cozinharam o galo, mas a partir daí, a minha Mãe aprendeu o ofício. Quando viemos viver para o Entroncamento ela ainda se encarregava dessa nobre missão...
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