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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Mistério Desvendado


Avó-Má sempre disse que era bisneta de um “Barão Almeida”. Ainda numa das últimas cartas que me escreveu dizia que teria sido Cônsul Português em Manila ou Singapura.
Como era muito novo na altura, pouco adiantei nessa informação, embora a minha Mãe dissesse o mesmo, sem qualquer hipótese de prova. Até porque, feitas as contas, ia calhar-me um tetravô nobre, já muito afastado portanto, e bem dividido, teria, quanto muito, uma ou duas gotas de sangue azul, ou até nem isso...
Curiosamente, uma informação preciosíssima de um Amigo jornalista, João Botas, a quem nunca é de mais agradecer, um grande estudioso do Macau Antigo, levou-me a consultar uma obra sobre famílias macaenses de Jorge Forjaz, e, a pouco e pouco, começou a fazer-se luz sobre o misterioso “Barão Almeida” e a veracidade do que Avó-Má afirmava. Confrontando com outros dados, alguns retirados da net, foi possível reconstituir a parte da árvore genealógica respeitante a Avó-Má até ao tal tetravô, cujo nome surge como:
Sir José de Almeida de Carvalho e Silva (1784-1850). Era natural de S. Pedro do Sul, foi para o Oriente como médico cirurgião da Marinha Portuguesa, com destino a Singapura, onde iria fundar um Dispensário Médico mas mais tarde viria a tornar-se um próspero comerciante.
Passou em Macau onde conheceu e casou com Rosália Vieira de Sousa e teve 12 filhos deste casamento, entre os quais, Isabel d’Almeida (n.1833) que casou com Francisco Pereira e de quem teve oito filhos. Destes, Delfina Estefânia Rosa Pereira d’Almeida (n.1863) casou em primeiras núpcias com Filomeno Conceição do Rosário Rodrigues (n.1865). Tiveram duas filhas, uma delas, de nome Henriqueta Maria Rodrigues , a Avó-Má, bisneta portanto. Tal como Avó-Má dizia.
Não sei de onde lhe vem o título de Sir. Este senhor, fundou mais tarde um entreposto comercial. Prosperou. Casou várias vezes. Em 1842 veio à Europa, onde foi recebido e agraciado por D. Maria II com os graus de Cavaleiro da Ordem de Cristo e Comendador da Ordem de N.Sª. da Conceição de Vila Viçosa; de Espanha, recebeu o grau de Cavaleiro da Real e Distinta Ordem Espanhola de Carlos III. Regressou ainda a Singapura com o Título de Cônsul Geral de Portugal em Singapura.
Entre outras actividades, dedicou-se à agricultura e horticultura, fez experiências e introduziu novas formas de cultivo e foi pioneiro em plantações de borracha, baunilha, açúcar, café e algodão.
Era um homem mundano; as suas festas eram muito concorridas. Protector das Artes, era um melómano notável. A sua família, não raras vezes tocava com as orquestras que animava as festas. Era também conhecido pelo seu espírito filantrópico.
Faleceu em 1850 e foi enterrado no Cemitério de Fort Canning Hill, com todas as honras.
Em Singapura ainda existe uma rua com o seu nome: “D’Almeida Street” (Foto).

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