A Primeira República dava ainda os seus primeiros passos e desembarcava em Macau Simão Amarante em cumprimento de uma comissão do serviço militar. Nortenho (de Gôve, concelho de Baião), alto, analfabeto, bem parecido, republicano convicto, trazia o sonho de encontrar e abanar a árvore das patacas em terras do Extremo Oriente.
Finda a comissão, como tantos outros, tentou a sua sorte, numa terra completamente estranha, arranjou emprego, constituiu família, viveu uma vida cheia, que venho contando aos poucos, sempre na expectativa de um dia regressar de visita ao torrão natal.
Circunstâncias diversas nunca o permitiram, oito filhos foram o maior entrave, depois a reforma e a Segunda Guerra Mundial acabaram com as esperanças (e as licenças graciosas…). Não enriqueceu.
Mas Avô-Pá, o meu avô, sempre incentivou os seus filhos a deixarem Macau e a alargarem os horizontes, eventualmente na sua terra natal, Portugal, que nunca esqueceu.
A minha Mãe foi o primeiro elemento da Família a estabelecer-se na Metrópole. Lembro-me de, na véspera da nossa partida, Avô-Pá dizer: “Carina (era como a tratava sempre), não tens de ir, tens aqui sempre um quarto e um prato para ti e teus filhos, mas vais ver que Portugal é um País lindo…”. Referia-se aquilo que conhecia e lembrava de há 40 anos atrás.
Com pouco mais de 60 anos deixou-nos, sem nunca ter regressado a Portugal.
Em 15 de Outubro de 1975 nascia no Hospital do Entroncamento NUNO RAFAEL DA SILVA FELICIANO, 1º filho da minha Irmã Diana, e apesar de já não usar o apelido Amarante, foi o primeiro descendente do bisavô Simão Amarante a nascer em Portugal.
Simbolicamente foi o regresso tão desejado e ao mesmo tempo, a primeira semente nesta terra, que, apesar de tudo, Avô-Pá tanto amava.
O apelido Amarante de Avô-Pá extinguir-se-à naturalmente em Portugal, mais ano, menos ano; os seus mais novos titulares são do sexo feminino, mas a Diáspora Macaense, que espalhou a nossa Família pelos cinco continentes, vai manter ainda vivo o sangue dos Amarantes durante muito tempo.