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domingo, 14 de novembro de 2010

Parabéns Mãe!

A minha Mãe faria hoje 84 anos. Ainda conheceu as nossas filhas Diana e Ana Carolina, assim como todos os outros netos que teve (Nuno, João e Ana Margarida). Tenho falado muito dela neste blog, pelo que hoje apenas quero manifestar o quanto gosto dela, as saudades que tenho, a falta que sinto dela, mas também a grande felicidade de ser filho dela e poder dizer que, apesar de já não estar entre nós em pessoa, está dentro de mim, como eu estive dentro dela. E assim será, até que um dia nos voltaremos todos a encontrar. Parabéns Mãe!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Santos e relíquias

Ao ler um dos posts de João Botas (http://macauantigo.blogspot.com/) sobre São Francisco Xavier, lembrei-me que foi Avó-Má que me falou, pela primeira vez deste santo. Foi naquela fase em que ainda tinha a esperança que eu fosse estudar para padre e contava-me muitas histórias de santos e milagres, possivelmente com alguma fantasia de permeio, mas que eu até gostava e tornou-me um razoável contador de histórias, capacidade que viria a manifestar mais tarde na escola e depois, quando fui pai de duas ávidas ouvintes.
Mas, curiosamente, nunca me contou que em Macau se venerava um pedaço do úmero do Santo. Durante a minha viagem de Macau para o Continente, feita no paquete Timor, tivemos, até Singapura, a companhia de um padre, novo, que aproveitando do facto de haver muitas crianças a bordo (na 3ª classe, que era onde viajávamos…) organizava o muito tempo que dispúnhamos para brincadeiras e também para nos ir catequizando, cantando cânticos no convés, contando histórias de santos, rezando o terço… E foi através dele que soube do osso do úmero que ficara em Macau e eu jamais veria, mas do corpo incorrupto do taumaturgo que eu teria a oportunidade de ver em Goa, na escala que o navio fez em Mormugão, na altura, ainda sob administração portuguesa. Era novo, mas muito interessado nestas questões do sobrenatural. Gostei de ver a urna de prata onde repousa o corpo enegrecido envolto em ricas vestes, visível através de um vidro. Outro relicário que me impressionou também, foi o que continha o osso do dedo do pé, arrancado com os dentes por uma fiel que queria ficar com uma relíquia corpórea do Santo…
Posteriormente, foi a minha Mãe que me fez guarda de uma relíquia de São Francisco Xavier, uma relíquia denominada “de contacto”, constituída por um minúsculo pedaço da veste do Santo, quando foi substituído, numa das vezes que o túmulo foi aberto. Tinha-lhe sido dada pelo meu Tio Vasco. Estava dentro de um pequeno envelope com uma gravura e uma oração. Infelizmente, guardei-a tão bem que nunca mais a vi…
Ao pesquisar na net, encontrei uns trabalhos muito interessantes sobre São Francisco Xavier, da autoria de Maria Cristina Osswald e que recomendo vivamente aos interessados.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O vestido cor-de-rosa

Teria eu uns quatro anos. A minha Mãe, caso muito raro nela, segundo dizia, ganhou um prémio numa rifa. Tratava-se nem mais nem menos do que um belo vestido cor-de-rosa para criança, daqueles meios translúcidos (organdi?), cheio de folhos e lacinhos e balões nas mangas, modelo da loja “May may” (penso que é assim que se escreve), a loja de roupa infantil mais famosa de Macau naquela altura. Um sonho de qualquer pequerrucha candidata a princesa em conto de fadas.
Acontecia que lá em casa não havia quem vestisse o dito modelo, com grande pena de minha Mãe, cuja aspiração a uma menina na segunda maternidade, fora frustrada com mais um rapagão, de cabeça coroada com lindos caracóis loiros, mas que, de menina nada mais tinha.
Na iminência de ter de se desfazer de tão valiosa peça de indumentária, sem lhe ter dado uso, o que havia de lhe lembrar?
Como o vestido até era do meu tamanho, não sei que volta me deu, só sei que me convenceu a vestir o vestido, que pelos vistos me assentava que nem uma luva; com uns sapatos brancos unisexo muito em voga na altura e um puxinho, bem puxado (e doloroso), que eu tinha o cabelo muito curto, com um lacinho a condizer, fui, despudoradamente sujeito a uma sessão fotográfica para a posteridade, que é a vergonha da minha infância… E eu até me ri para as fotografias!
Posteriormente, o vestido foi oferecido à minha prima Luzia (filha do meu Tio e Padrinho César), que era um ano mais velha que eu e que lhe deu um bom uso e, devo confessar, ficava bem melhor que a mim.

 A fotografia de grupo mostra, da esquerda para a direita, a minha prima Ivone (filha de Tia Branca) abraçada à Luzia, com o famigerado vestido cor-de rosa; a seguir estou eu abraçado ao meu irmão Mário, com os seus célebres caracóis loiros; a da saia escura é a minha prima Albertina (filha de Tia Branca) com o meu primo Jojo (filho de Tia Gisela) ao colo, logo a seguir está o meu primo "Boy" (filho de Tia Branca), à frente está a prima Ivone (filha de Tio César, irmã de Luzia) e mais à direita está o primo Nado, irmão de Luzia e Ivone. As fotografias do vestido foram tiradas em 1 de Julho de 1953. A de grupo deve ter sido tirada em 16 de Julho de 1954, um ano depois, no dia do meu aniversário.