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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Meu Irmão

Esta é de um passado mais recente.

Meu irmão Mário foi sempre considerado o bom malandro da família. Enquanto a mim tudo era esperado e exigido, como o mais velho, ele teve sempre as atenuantes necessárias. Era porque, quando estava ainda na barriga da nossa Mãe tiveram um acidente de rickshaw e podia ter ficado afectado… era porque teve meningite em criança (a nossa querida Mãe dizia pomposamente “princípio de meningite”...), o facto de ser muito atreito a tosses durante o Inverno e muito mauzinho a comer, deram-lhe um estatuto que não era usual num filho do meio. E como o meu Irmão, cujo coração é grande até não poder mais, podia ser tudo o que dissessem, mas parvo é que não era, protagonizava cenas macacas ao abrigo desse estatuto pseudo-especial.

No então Externato Mouzinho de Albuquerque, era cábula até mais não, o inverso da minha fama de ajuizado. Por ser o mais velho e ter a confiança ilimitada dos nossos Pais, quando o Director queria alguma coisa de nós, era a mim que se dirigia.

Um belo dia, fui chamado ao Gabinete do Senhor Director (facto que já não me deixava muito tranquilo…); mostrou-me um teste escrito de Matemática do meu Irmão, onde, a vermelho, sobressaía um “Medíocre”, com todas as letras. O problema não era esse. As relações do meu Irmão com essa disciplina nunca foram muito boas, pelo que não estava admirado. O Director tinha dúvidas era na assinatura do nosso Pai. De facto tinha razões para isso. O nosso Pai, para os testes escritos utilizava a sua “assinatura”, com o nome completo. Para documentos de menor importância, utilizava uma “rubrica” muito simplificada que era a chapada no teste.

Perguntou-me se eu reconhecia a rubrica. Eu estava hesitante, mas depois, lembrei-me que o nosso Pai estava doente, de gripe ou algo parecido, e de cama. Pensei cá para mim, como assinou deitado e com pouca paciência para mais uma nega, rubricou e por aí ficou, sendo que a letra um pouco tremida derivava do facto de ter sido feito na cama… Foi o que expliquei com toda a minha convicção ao Director. E fui na Paz do Senhor.

Certo dia, já nem me lembrava do episódio, ao arrumar um livro que o meu Irmão tinha deixado fora de sítio, um pequeno pedaço de papel vegetal caiu lá de dentro. Apanhei-o, olhei e fez-se luz na minha cabeça. À minha frente, a rubrica do meu Pai, copiada sabe Deus de onde e depois decalcada no tal teste que eu afiançara ao Director ter sido rubricada pelo nosso Pai.

A narrativa fica aberta. Usai da imaginação para um final coerente.


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